Em tempos de crise, vários temas relacionados à gestão de pessoas têm ganhado evidência. Empatia, resiliência, pensamento colaborativo, propósito e valores têm sido assuntos recorrentes no “festival de lives” que estamos sendo submetidos nesta quarentena.
Um outro tema, nada atual inclusive, se refere a humanizar as relações no ambiente corporativo. Digo que o tema não é atual, pois Daniel Goleman em 1995, na sua obra “Inteligência Emocional”, mostra como a incapacidade de lidar com as próprias emoções pode minar a experiência escolar, acabar com carreiras promissoras e destruir vidas. Mais recentemente, em 2015, Lazlo Bock em sua obra “Um novo jeito de trabalhar”, revelando detalhes sobre os bastidores do Google, descreve várias ações voltadas à humanização das relações de trabalho em prol de resultados eficientes.
Enfim, se já se trata de um assunto tão recorrente e no primeiro momento até óbvio, por que ainda estamos falando disso? Tenho algumas percepções para dividir com vocês.
Primeiramente, muitos gestores ainda encaram negócios e pessoas de forma dissociada. Parece maluco, mas, muitas vezes, vejo “pauta de gente” distinta da “pauta de negócios”, como se números, produtividade, entrega de resultados fossem executadas por uma “entidade” que não as pessoas.
Segundo, acompanhando a evolução da história das empresas, vejo alguns profissionais agindo como se ainda estivessem na década de 70, onde vida pessoal não deva interferir na vida profissional (quanta balela) e humanizar as relações no trabalho é pouco importante, já que “estamos aqui para trabalhar e não para fazer amigos” (pensamento bem arcaico, por sinal).
Terceiro, assuntos como saúde mental, bem estar e qualidade de vida muitas vezes ainda são vistos no mundo corporativo como pauta secundária (quando existe), não cabendo aos gestores priorizar tais preocupações. Ainda vejo vários executivos acreditarem que manter um clima favorável, agradável e saudável é um “assunto lá do pessoal do RH”.
Segundo o Dicionário Aurélio, humanização se refere ao ato de humanizar, suavizar, inspirar a humanidade, sendo, portanto, uma prática natural e própria do gênero humano, desde o surgimento da vida na face da Terra. Transpondo tal definição para o mundo corporativo, vejo algo bem simples de ser feito.
Humanizar os relacionamentos “lá na firma” pode ser considerado como um conjunto de ações e comportamentos que já sabemos fazer. Você não precisa de grandes investimentos (talvez nenhum) e nem precisa transformar sua empresa no Google. Veja algumas dicas bem práticas:
· Conheça e respeite sua equipe;
· Confie nas pessoas;
· Reconheça seu time;
· Celebre as pequenas e grandes conquistas;
· Intensifique o feedback sincero;
· Seja verdadeiro e transparente;
· Compartilhe conhecimento e informações.
Viu como não é nenhum bicho de sete cabeças? Viu que não há nada de romântico ou filosófico nestas ações? Viu o quão básico é este tipo de tratamento? Viu como pode ser viável?
Encerro este artigo recorrendo à psicologia, mais especificamente a Carl Gustav Jung que traz uma citação em uma de suas obras que me parece bastante pertinente “conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.
Simples assim! Vamos de fato começar?
Texto colaboração de Simone Martins, psicóloga e consultora especializada em gestão de pessoas, processos e mudanças (www.plugrh.com.br).